Entenda o princípio de incêndio em posto de combustíveis em Timon (MA)
Profissionais da BTX comentam o incidente e explicam o processo por trás da ocorrência e suas possíveis consequências
O incidente registrado em 6 de novembro , num posto de combustíveis em Timon (MA), no qual um homem acendeu um cigarro próximo à área de tancagem durante a descarga de combustível e provocou um princípio de incêndio, reforça a importância do cumprimento das normas de segurança em áreas de abastecimento.
Alexandre Chiarini, diretor Técnico da BTX, explica que "embora rapidamente controlado, o episódio evidencia como o comportamento físico-químico dos vapores inflamáveis pode gerar riscos sérios mesmo em situações aparentemente simples”.
Homem acende cigarro e causa princípio de incêndio em posto de combustível em Timon — Vídeo: Reprodução.
Riscos e consequências operacionais
Mesmo o princípio de incêndio de pequena escala pode causar danos como queimaduras e lesões em clientes e funcionários, prejuízos a veículos e destruição de bombas e instalações. Explosões secundárias em áreas confinadas também fazem parte desse cenário.
Para além das preocupações mencionadas, o posto pode sofrer interdição temporária, bem como penalidades administrativas e danos à reputação.
Esse tipo de incidente reforça o papel crucial das normas de segurança, como a NR-20, no controle de riscos envolvendo líquidos inflamáveis.
Porque o fogo se propagou pelo chão do posto
Para compreender o processo por trás do ocorrido, conversamos com Amanda Basaglia, gerente de Remediação Ambiental da BTX, que explicou abaixo por que os vapores de combustível se espalham pelo piso.
Para entender por que o fogo se propagou pelo chão, é essencial compreender o comportamento dos vapores liberados pela gasolina.
A gasolina libera vapores cuja densidade é maior que a do ar. Isso significa que, ao evaporar, esses vapores não sobem imediatamente, tendem a permanecer próximos ao solo e podem se espalhar horizontalmente.
Gráfico ilustrado explica que vapores de gasolina são mais pesados que o ar. Reprodução)
Esse fenômeno cria uma “nuvem” inflamável no nível da pista de abastecimento. Além disso, o pavimento quente da pista de abastecimento favorece a movimentação lateral dos vapores sobre o piso.
Pavimento aquecido pelo sol → acelera volatilização;
Ventilação inadequada ou vento fraco → vapores não se dissipam rapidamente;
Presença de ralos, grelhas, canaletas e juntas de dilatação → funcionam como “corredores” naturais para a nuvem de vapor;
Fissuras ou desníveis no concreto → direcionam o movimento dos vapores.
Por isso, o fogo pode “seguir um caminho” inesperado, acompanhando a rota da nuvem invisível.
Para ocorrer ignição, três fatores devem estar presentes:
Combustível: vapores de gasolina;
Comburente: oxigênio no ar;
Fonte de ignição: chama, faísca ou alta temperatura.
A gasolina possui limite inferior de inflamabilidade muito baixo, ou seja, pequenas quantidades de vapor já podem formar uma mistura explosiva.
No incidente em Timon, o cigarro aceso atuou como fonte de ignição, disparando a combustão da nuvem de vapor acumulada na pista.
A importância do monitoramento
O incidente em Timon demonstra como comportamentos inadequados — como acender um cigarro próximo à área de abastecimento — podem desencadear situações de alto risco devido à presença de vapores inflamáveis junto ao piso.
Equipe BTX realiza inspeção para coleta de material a ser analisado. Foto: Fernando Cavalcanti, BTX.
A compreensão do comportamento desses vapores, somada ao cumprimento rigoroso das normas de segurança e à manutenção adequada das instalações, é fundamental para proteger vidas e manter a integridade operacional dos postos de combustíveis.
Esse fato trágico lança o alerta para a necessidade da investigação periódica que verificará se o solo ocupado por postos de combustíveis está ou não contaminado. Caso o primeiro passo, do diagnóstico, identifique um problema, a remediação cuidará da reabilitação da área, evitando que gases expelidos coloquem vidas em risco.